Confira o texto do jornalista Lúcio Flávio Pinto publicado no Jornal Pessoal, nº 456, 1ª quinzena/janeiro 2010.
MAG!
Fora (d)o provincianismo
Por Lúcio Flávio Pinto
Por Lúcio Flávio Pinto
No seu 17º número, a revista Mag!, editada em São Paulo, se consolidou como uma das mais destacadas revistas brasileiras. É sobre moda, mas nem só, nem tão substancialmente. E mais sobre modo de viver, de se apresentar e de sentir. Feita com extremo bom gosto, sofisticação e doses de audácia e criatividade como há muito não se via na praça. Das 322 páginas, oficiais, mas que, na verdade, somam 366 com os dois suplementos (um para versão em inglês dos principais textos), mais da metade (186 páginas) é dedicada a Belém e aos paraenses.
Não é uma edição de "carregação", para faturar anúncios, que são raros, apenas de permuta e sustentação. O editor da revista escolheu cenários para os modelos apresentados e selecionou personagens locais que conquistaram um espaço próprio graças a seu valor, a começar pela modelo Caroline Ribeiro, que aparece na capa e em numerosas páginas internas. Outros paraenses entraram no portfólio de Mag! por serem realmente personagens nacionais e até internacionais. A posição, porém, foi conquistada, não caiu de graça nem se deve a mero marketing ou compra direta.
A leitura da belíssima edição pode ter utilidade pedagógica para o público paraense: ajuda-o a se libertar de uma tutela provinciana e medíocre, a que o submete a mídia local e os hábitos rotineiros nos quais se enredou. O olhar rigoroso dos visitantes que a revista trouxe para transformar Belém no principal tema de capa revela o que os nativos não vêem e os forçam a admitir valores que a cornucópia de compadrio e cumplicidade desmerece ou esconde.
Classe e ousadia
A cantora Fafá de Belém e a banda Calypso têm o tratamento de estrelas de primeira grandeza, mas enquadradas numa moldura rigorosa, que realça suas qualidades, freqüentemente desdenhadas pelo complexo de vira-lata dos colonizados (quando esse sentimento não se manifesta pelo seu oposto: o culto à ruindade, estabelecida graças à falta de avaliação crítica). Mas não é só de stars que se desenvolve a edição: há espaço para o Coletivo Rádio Cipó, "Rubão", Paulo Chaves Fernandes, Eloy Iglésias, Manoel Júnior, dona Onete, Gabi Amarantos, os DJs Elisson e Juninho, Walda Marques e até a "figura controvertida" do editor deste jornal, uma transgressão a que Mag! se permitiu provavelmente para assinalar o seu cosmopolitismo, capaz de ignorar misérias e mesquinharias provincianas (efeito comprovado pelo tratamento que O Liberal lhe dispensou, a pão e água).
O ensaio sobre o chalé Porto Arthur, em Mosqueiro, é um primor. Quase adquiriu movimento. Mesmo sem esse efeito, provocará ondas de melancolia e saudade nos que puderem apreciá-lo, graças às fotos de André Vieira e o texto de Marcos Guinoza.
Obrigado a todos que fizeram essa edição de Mag!. Com classe e a ousadia, nos libertaram dos grilhões da quadratura paraense dominante. Ao menos no curso de suas 186 páginas. Para guardar e rever sempre.