Por Luiz Carlos Santos
Com Vicky Cristina Barcelona, Woody Allen faz convite – racional – ao amor
A explosão de tons e a erupção que só o amor pode causar são o material central deste trabalho de Woody Allen, que rendeu a Penélope Cruz um Oscar e ao público uma deliciosa experiência por uma das cidades mais charmosas da Europa. “Vicky Cristina Barcelona” é indiscutivelmente um filme do cineasta de “Match Point” (2005): tem reflexões sobre sexo, casamento e paixão, desencontros, diálogos sagazes e absurdos, uma trilha sonora de primeira, e, claro, muito humor.
Uma espécie de releitura moderna do mito de Don Juan, é a história de duas amigas, Vicky (Rebecca Hall, excelente) e Cristina (a insossa Scarlett Johansson), que, encantadas pela beleza de Barcelona, cedem aos galanteios do pintor Juan Antonio (Javier Bardem). Antes disso, porém, e em função de personalidades muito distintas, haverá resistência e drama, especialmente por parte de Vicky, espécie de alter-ego do diretor.
Metódica, travada e cheia de pudores, Vicky apela a um noivado falso para não sucumbir e ser infiel. Mais interessada em seu mestrado sobre cultura catalã, a moça resiste aos galanteios do latino. Rebecca Hall faz um ótimo trabalho ao dar o tom de dúvida e culpa à personagem cheia de neuroses – uma espécie de Allen de saias. Quando enfim se apaixona, descobre que era melhor não tê-lo feito.
Cristina é o oposto: instável, ainda procura suas verdadeiras vocação e sexualidade. Enquanto isso, experimenta de tudo e se acredita livre por isso – é a típica norte-americana que, bombardeada pela mídia e uma cultura consumista, se molda a partir de pequenos detalhes dos universos que presencia, sem nunca se aprofundar em nada.
No meio delas, surge a vulcânica Maria Elena (Penélope Cruz, estonteante). A ex de Juan Antonio parece maluca a princípio, mas depois se revela o verdadeiro esteio de uma relação que está inexoravelmente fadada ao fracasso. Agressiva e sensual, ela não hesitou em esfaquear o marido numa briga – e nem se importa em travar diálogos com ele em espanhol enquanto as americanas globalizadas pedem tradução a cada palavra.
O embate cultural é um dos pontos mais interessantes da narrativa escolhida para “Vicky...”. Temos, de um lado, os americanos, neuróticos e presos a moralismos, e os espanhóis (e, em maior escala, os europeus), que são sofisticados e libertários, embora vivam se desentendendo entre si. O texto do narrador – recurso que pode ser perigoso nas mãos de roteiristas menos habilidosos – é fundamental para reforçar o contraponto.
A contradição entre os personagens, e justamente aquilo que os atrai, também é exposta de forma sutil no uso da arquitetura do espanhol Guadí, tida ela mesma como instável e complexa, como a maneira humana de encarar o amor. Barcelona, como já dito, é um dos personagens mais fortes e, na mão de Allen e do fotógrafo Javier Aguirresarobe (de “Fale com Ela”), ganha um tom avermelhado, quente, refletindo as faíscas que saem das relações humanas retratadas.
Metódica, travada e cheia de pudores, Vicky apela a um noivado falso para não sucumbir e ser infiel. Mais interessada em seu mestrado sobre cultura catalã, a moça resiste aos galanteios do latino. Rebecca Hall faz um ótimo trabalho ao dar o tom de dúvida e culpa à personagem cheia de neuroses – uma espécie de Allen de saias. Quando enfim se apaixona, descobre que era melhor não tê-lo feito.
Cristina é o oposto: instável, ainda procura suas verdadeiras vocação e sexualidade. Enquanto isso, experimenta de tudo e se acredita livre por isso – é a típica norte-americana que, bombardeada pela mídia e uma cultura consumista, se molda a partir de pequenos detalhes dos universos que presencia, sem nunca se aprofundar em nada.
No meio delas, surge a vulcânica Maria Elena (Penélope Cruz, estonteante). A ex de Juan Antonio parece maluca a princípio, mas depois se revela o verdadeiro esteio de uma relação que está inexoravelmente fadada ao fracasso. Agressiva e sensual, ela não hesitou em esfaquear o marido numa briga – e nem se importa em travar diálogos com ele em espanhol enquanto as americanas globalizadas pedem tradução a cada palavra.
O embate cultural é um dos pontos mais interessantes da narrativa escolhida para “Vicky...”. Temos, de um lado, os americanos, neuróticos e presos a moralismos, e os espanhóis (e, em maior escala, os europeus), que são sofisticados e libertários, embora vivam se desentendendo entre si. O texto do narrador – recurso que pode ser perigoso nas mãos de roteiristas menos habilidosos – é fundamental para reforçar o contraponto.
A contradição entre os personagens, e justamente aquilo que os atrai, também é exposta de forma sutil no uso da arquitetura do espanhol Guadí, tida ela mesma como instável e complexa, como a maneira humana de encarar o amor. Barcelona, como já dito, é um dos personagens mais fortes e, na mão de Allen e do fotógrafo Javier Aguirresarobe (de “Fale com Ela”), ganha um tom avermelhado, quente, refletindo as faíscas que saem das relações humanas retratadas.
O figurino é outro elemento usado para aproximar ideologicamente os personagens de Bardem e Cruz. Ambos estão sempre em tons fortes ou peças menores, que mostram muito de seus corpos e exaltam sua sensualidade e liberdade, sua característica um tanto nômade, desprendida – diferentemente das roupas de escritório usadas pelas americanas que, em plenas férias, escolhem taileurs e blusas comportadas, artifício para denotar uma falsa noção de elitismo.
Woody Allen parece ter fincado bandeiras na Europa, depois de três filmes na Inglaterra e este, na Espanha. Conhecido por homenagens sem fim a Nova York, o grande mestre tem se beneficiado com os ares do Velho Mundo, sempre ciente dos efeitos que os lugares, tempos e espaços têm sobre nós. “Vicky Cristina Barcelona” é como uma ida a um restaurante japonês na Riviera Francesa: a mistura de hábitos, línguas e pessoas pode ser sempre surpreendente.
Ficha técnica
Vicky Cristina Barcelona
2008, EUA/ Espanha
De Woody Allen
Com Javier Bardem, Scarlett Johansson, Rebecca Hall, Penélope Cruz
Drama, 96 min.
4 comentários:
eu ví o trailler, mas não me apeteceu muito aos olhos.. quem sabe um final de semana chuvoso ajude, ehehe
ah, hoje eu to no blog da Kerou no E-Glam: e-glam.blogspot.com, passa lá!
beijooos
Desiiii, li a enttrevista e recomendo para os leitores do blog da Cadicoisa os espaços www.blogsintonias.com e www.e-glam.blogspot.com.
Obrigado pela visita!!!
Isaac.
=)
ai Javier ... adorei o filme. mesmo repetitivo, woody allen é woody allen. sempre prometo não assistí-lo mais, porém... Javier me convenceu ahahaha bjs Fabíola
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