segunda-feira, 1 de junho de 2009

Teatro do Absurdo: o ilógico que invade os palcos


Por Andressa Gonçalves


Surreal. É esta a palavra que descreve o Teatro do Absurdo. O termo, criado pelo crítico norte-americano Martin Esslin, caracteriza todas as peças produzidas nas décadas de 1940 a 1960 que abordam o tratamento inusitado da realidade.

Em Belém do Pará, Jogo de Sete e A Cantora Careca são espetáculos Absurdos das companhias Em Cores e Thaetro de Performances & Espetáculos. Com enredos constituídos de elementos chocantes e ilógicos que norteiam o cenário, os figurinos, os diálogos e os personagens, as narrativas tecem críticas sobre a sociedade moderna e difundem uma ideia subjetiva acerca do obscuro e do que não pode ser visto e nem sentido.

O Teatro do Absurdo é o sonho que invade o real. As companhias apresentam no palco a crise social vivida pela humanidade. Uma das primeiras produções absurdas, A Cantora Careca (1950), de Eugene Ionesco, é montagem da companhia Thaetro, que apresentou a peça pela primeira vez em 2003, no Festival Criação Volkswagen, onde representou o Pará.

Jogo de Sete, da companhia Em Cores, trata sobre as tensões humanas que existem na linha tênue que separa o pecar e o amar. Na trama, sete pessoas se relacionam com Julia, a principal personagem da história que, assim como a Cantora Careca, fica a cargo da imaginação do público.

Um, Dois, Três, Quatro, Cinco, Seis e Sete são os personagens que retratam as loucuras, as anormalidades e o surrealismo que todo ser humano apresenta. Por meio de diálogos constituídos pelo jogo de palavras, melodias e passagens bíblicas, os Jogadores materializam o irreal (ou o reprimido) pelas pessoas “comuns”, que temem em encarar a anormalidade e ser leal às suas próprias insanidades. O preto é, igualmente, a cor trabalhada nos figurinos. A monocromia é quebrada com sete vendas coloridas, cada uma de uma cor do arco-íris.

Sobre a origem da peça, o diretor Haroldo França explica que “a montagem começou como pura experimentação. Eu tinha o desafio de costurar, dentro de uma mesma peça, sete personagens propostos por sete atores - cada um com seus objetivos e seus conflitos. Atentei para o número sete, e costurei a trama trabalhando a temática dos mistérios que surpreendem nas ocorrências deste número, trabalhando principalmente com os sete pecados capitais. Depois disso, começamos a desconstruir tudo de novo, num processo de devaneios que eu acho fascinante para qualquer artista. Hoje, o Jogo de Sete já é outro trabalho, mais consistente”.

Jogo de Sete é o Teatro do Absurdo pós-moderno. A narrativa trabalha principalmente o elemento humano e explora seus sentimentos, sensações, dores e prazeres. “Eu vejo o Jogo de Sete como uma brincadeira. Claro que a obra aponta para as mais diversas direções, e toca, sim, em feridas do ser humano, mas o meu intuito pessoal ao montar esse espetáculo é simplesmente jogar, brincar de misturar conflitos, sensações, sentimentos; causar estranhamento e encanto no público.”

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