Por Andressa Gonçalves
Foto: Fabrício Nunes / Reprodução
A Matinta Perera, o Lobisomem, a Moça sem Face e a Mulher do Táxi são alguns dos personagens que compõem o cenário da literatura oral amazônida. Contadas em conversas de "porta de casa", as histórias sobre visagens e assombrações atraíam a atenção do belenense, funcionando como ótima forma de entretenimento de uma sociedade que desconhecia o "tempo moderno".
O devenir da história da humanidade trouxe ao mundo a Primeira Guerra Mundial e o início dos meios de comunicação; a Revolução Industrial e a produção em massa; o fim da Guerra Fria e expansão do sistema capitalista, até que, na casa dos paraenses, chegou a televisão.
A programação televisiva reteve em casa o povo que antes ia à porta conversar. Os galãs das novelas roubaram o protagonismo antes pertencente aos personagens das macabras histórias de Belém. Das casas, as pessoas mudaram-se para condomínios verticais e se acostumaram com o individualismo, afastando-se do convívio com outras pessoas. Paralelamente, o Lobisomem, a Moça sem Face e a Matinta Perera foram esquecidos.
Ao observar a escassez da literatura oral no cotidiano belenense, Walcyr Monteiro, escritor, presidente do Centro Paraense de Estudos de Folclore, jornalista e amante da literatura oral, reuniu, em "Visagens e assombrações de Belém", 25 histórias que constituem o imaginário local, incluindo um rico material sobre o "Culto das Almas", prática religiosa exercida até hoje em Belém.
O autor, que se denomina apaixonado pela Amazônia, nasceu e cresceu na “Belenzita” de 200 mil habitantes, ouvindo os mitos amazônicos que diariamente constavam como pauta na conversa dos adultos, sempre depois de discutirem sobre o noticiário do dia. "A essa altura, Belém tinha apenas uma emissora de rádio", diz o escritor.
No jornal "A Província do Pará", Walcyr Monteiro iniciou seus escritos sobre as visagens e as assombrações de Belém, a fim de preservar o universo da cultura regional, que se tornara volátil. "As lendas e os mitos funcionam como elementos de instrução. Sempre haverá alguém para contar histórias e sempre haverá alguém para ouvi-las", diz.
“Visagens e assombrações de Belém” não traz somente o resgate de uma identidade cultural. O livro revive uma Belém com clima de misticismo, retornando a uma época em que os temores da sociedade não iam além de aparições fantasmagóricas. A relação entre o fantástico e o real resulta em uma leitura gostosa, oferecendo ao leitor um conhecimento acerca da história da cidade de Belém - uma história saída diretamente do imaginário popular, das ruas da cidade, por pessoas que afirmam ter testemunhado os fatos documentados por Walcyr Monteiro.
“As incríveis histórias do caboclo do Pará” e “Visagens, assombrações e encantamentos da Amazônia” são outros títulos do escritor, que constituem um acervo com alguns exemplares em japonês, espanhol e inglês, lançados no exterior.
Apesar de grande parte da população ter perdido o contato com a literatura oral, muitos ainda lembram e têm suas versões sobre essas histórias, ou relatam novos acontecimentos, envolvendo personagens dos mitos já conhecidos.
Culto das Almas - Mas não só as visagens e as assombrações são importantes culturalmente para Walcyr Monteiro. A mesma importância é atribuída ao “Culto das Almas”, igualmente documentado no livro. O rito é uma prática antiga, realizada todas as segundas-feiras, nos dois principais cemitérios de Belém - o de Santa Izabel e o da Soledade. Este último apresenta características peculiares: é localizado no centro da cidade e já se encontra inativo para enterros há muitos anos. Durante os cultos, as pessoas pedem graças às almas, as quais intermediam as conversas com Deus.
Foto: Fabrício Nunes / Reprodução
A Matinta Perera, o Lobisomem, a Moça sem Face e a Mulher do Táxi são alguns dos personagens que compõem o cenário da literatura oral amazônida. Contadas em conversas de "porta de casa", as histórias sobre visagens e assombrações atraíam a atenção do belenense, funcionando como ótima forma de entretenimento de uma sociedade que desconhecia o "tempo moderno".
O devenir da história da humanidade trouxe ao mundo a Primeira Guerra Mundial e o início dos meios de comunicação; a Revolução Industrial e a produção em massa; o fim da Guerra Fria e expansão do sistema capitalista, até que, na casa dos paraenses, chegou a televisão.
A programação televisiva reteve em casa o povo que antes ia à porta conversar. Os galãs das novelas roubaram o protagonismo antes pertencente aos personagens das macabras histórias de Belém. Das casas, as pessoas mudaram-se para condomínios verticais e se acostumaram com o individualismo, afastando-se do convívio com outras pessoas. Paralelamente, o Lobisomem, a Moça sem Face e a Matinta Perera foram esquecidos.
Ao observar a escassez da literatura oral no cotidiano belenense, Walcyr Monteiro, escritor, presidente do Centro Paraense de Estudos de Folclore, jornalista e amante da literatura oral, reuniu, em "Visagens e assombrações de Belém", 25 histórias que constituem o imaginário local, incluindo um rico material sobre o "Culto das Almas", prática religiosa exercida até hoje em Belém.
O autor, que se denomina apaixonado pela Amazônia, nasceu e cresceu na “Belenzita” de 200 mil habitantes, ouvindo os mitos amazônicos que diariamente constavam como pauta na conversa dos adultos, sempre depois de discutirem sobre o noticiário do dia. "A essa altura, Belém tinha apenas uma emissora de rádio", diz o escritor.
No jornal "A Província do Pará", Walcyr Monteiro iniciou seus escritos sobre as visagens e as assombrações de Belém, a fim de preservar o universo da cultura regional, que se tornara volátil. "As lendas e os mitos funcionam como elementos de instrução. Sempre haverá alguém para contar histórias e sempre haverá alguém para ouvi-las", diz.
“Visagens e assombrações de Belém” não traz somente o resgate de uma identidade cultural. O livro revive uma Belém com clima de misticismo, retornando a uma época em que os temores da sociedade não iam além de aparições fantasmagóricas. A relação entre o fantástico e o real resulta em uma leitura gostosa, oferecendo ao leitor um conhecimento acerca da história da cidade de Belém - uma história saída diretamente do imaginário popular, das ruas da cidade, por pessoas que afirmam ter testemunhado os fatos documentados por Walcyr Monteiro.
“As incríveis histórias do caboclo do Pará” e “Visagens, assombrações e encantamentos da Amazônia” são outros títulos do escritor, que constituem um acervo com alguns exemplares em japonês, espanhol e inglês, lançados no exterior.
Apesar de grande parte da população ter perdido o contato com a literatura oral, muitos ainda lembram e têm suas versões sobre essas histórias, ou relatam novos acontecimentos, envolvendo personagens dos mitos já conhecidos.
Culto das Almas - Mas não só as visagens e as assombrações são importantes culturalmente para Walcyr Monteiro. A mesma importância é atribuída ao “Culto das Almas”, igualmente documentado no livro. O rito é uma prática antiga, realizada todas as segundas-feiras, nos dois principais cemitérios de Belém - o de Santa Izabel e o da Soledade. Este último apresenta características peculiares: é localizado no centro da cidade e já se encontra inativo para enterros há muitos anos. Durante os cultos, as pessoas pedem graças às almas, as quais intermediam as conversas com Deus.
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