domingo, 13 de setembro de 2009

Chatice vestida de grife

“Sex and the city – o filme” não faz jus ao divertido seriado da TV americana



Por Luiz Carlos Santos
Fotos: Divulgação

Tudo o que fez a delícia da série “Sex and the city” (2008) parece ter sumido do longa-metragem dedicado às quatro amigas bem-sucedidas, moradoras de Nova York e amantes do mundo fashion. O longa-metragem dedicado ao sucesso do canal pago HBO – exibido entre os anos de 1998 e 2004 – é um desfile, infelizmente de clichês, não de estilo. Chato, pedante, vazio e confuso, o filme não diverte e ainda faz a gente se perguntar se o destino de toda mulher de 30 é se tornar modorrenta aos 40. Você ainda fica boiando caso nunca tenha visto um episódio sequer na TV.

O melhor do filme nem é do filme. Trata-se da trilha sonora, essa sim gostosa e cheia de pontos altos. The Weepies, Duffy e Al Green – com a bela “How can you mend a broken heart” – pontuam diversos momentos do longa. Aliás, longo mesmo: alguém sabe explicar por que 148 minutos para um filme que, a princípio, teve tamanho prólogo televisivo? Os diálogos se arrastam e consolidam uma moralidade da qual o quarteto sempre foi despido. As situações não são engraçadas e, por diversas vezes, é possível ficar constrangido.


Difícil criar alguma empatia com Carrie Bradshaw, talvez a melhor personagem feminina de uma série de TV em muitos anos e, sem dúvida, da carreira da (quase) inexpressiva Sarah Jessica Parker. Carrie parece uma pós-adolescente problemática que só pensa no casamento luxuoso e se esquece do motivo por que vai se casar. Arrogante e mimada, soa como aquela garotinha insuportável de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (1971) que tudo quer, a todo momento, não importa como. Nem parece a interessante jornalista cujos conflitos eram tão interessantes de acompanhar.

O pior de Carrie, porém, é o figurino, assinado por Patrícia Field, que fizera um excelente trabalho em “O diado veste Prada” (2006). Tudo bem que nem sempre em filmes cujo verniz é o universo fashion as roupas que os personagens usam devem ser impecáveis ou as últimas criações dos mais celebrados estilistas. Quando, porém, os mesmos festejados criadores decidem dar seu toque especial às obras cinematográficas, a partir de convites milionários e campanhas gigantescas na mídia, espera-se algo de bom.


Não é o que se vê. Os colaboradores conseguiram fazer coisas absolutamente pavorosas, como a roupa que Carrie usa logo na cena de abertura. Você não lembra? Eu descrevo: trata-se de um vestido superflor – com uma imensa imitação de dália, talvez? –, com brincos de diamantes, bracelete Tiffany, carteira amarela e sandálias Dior. A combinação é pior que um mosaico multicolorido que causa dor de cabeça e só não perde para a bolsa em formato de Torre Eiffel que a protagonista usa quando vai conhecer com Big (Chris Noth) seu futuro apartamento.

O guardarroupa tem essas pérolas, todas cortesias de grifes do calibre de Prada, Valentino, Calvin Klein e Gucci. O que faz, porém, ser quase tudo tão estranho? A mistura exagerada de acessórios e peças. Carrie assume uma persona cafona que também não remete ao seriado, e daí pode-se concluir que, ao envelhecer, a mulher nova-iorquina do século XXI também vai ficando mais mal vestida. Com muita bondade, dá para entender que a, digamos, extravagância da personagem no modo de se vestir expressa seu modo de ser. Hum, será?

As outras personagens, porém, acertam mais do que erram. Miranda Hobbes (Cinthya Nixon) e Charlotte York (Kristin Davis) desfilam com belos vestidos, florais ou de gala, em várias cenas, sempre acompanhados de sapatos cujos tons discretos compõem um visual que, se não é ameno, também não incomoda. Miranda, a mais elegante – embora, no filme, moralista até a morte –, serve como manequim para belas criações de Carolina Herrera, Maggie London e Alberta Ferreti. Seria um pecado perder a oportunidade de explorar o fascinante mundo da moda nesse filme. Merecem destaque, também, os vestidos de noiva que Carrie usa para um ensaio fictício da “Vogue” no filme.

Há, contudo, muitos problemas de estrutura e roteiro. O consumismo assumido das quatro amigas é tão banalizado que se torna doloroso ver Samantha Jones (a estonteante Kim Catrall) cheia de sacolas desfilando nas mais caras ruas dos Estados Unidos. Impossível não associá-la a adolescentes que protagonizaram parecidas cenas, bem mais interessantes, em filmes passados; verdadeiras patricinhas que, pela proposta, não ficaram tão ridículas, como Reese Whiterspoon nos dois “Legalmente loira” (2001 e 2003) e a Anne Hathaway no já citado “O diabo...”. A frivolidade que antes era engraçada se torna desprezível. São as pobres mulheres ricas e seus melodramas elitistas, tão distantes e, nesse caso, distanciados do público.

Ficam fora de lugar também as citações literárias para justificar o ofício de Carrie, o culto às bolsas caras da Louis Vuitton – que se torna exagerado e fútil demais –, a simplificação dos conflitos femininos (que eram o maior trunfo da série) e a direção, que nunca acerta o tom. Quem se sai bem, curiosamente, é a dublê de atriz Jeniffer Hudson, vencedora do American Idol e de um Oscar prematuro por “Dreamgirls – Em busca de um sonho” (2007). Pela simpatia do personagem, ela acaba ofuscando a incongruência da patroa - sim, ela de novo, Carrie.

Se você quer se divertir vendo mulheres modernas, engraçadas e inteligentes, destilando seu veneno e observações sobre o mundo, sexo, moda e trabalho, recorra à série completa, toda disponível em DVD. É mais emocionante e tem muito mais estilo.

Sex and the city
EUA, 2008
De Patrick King
Com Sarah Jessica Parker, Kim Catrall, Kristin Davis, Cynthia Nixon, Chris Noth.
Comédia, 148 min.

4 comentários:

Unknown disse...

Dê uma olhada (e faça as críticas) no figurino do "Sex and the City 2".
A razão do visual 'anos 80' é pq o roteito da sequência relembra o momento que as moçoilas chegaram à NY.
Veja as fotos:
http://www.cineseries.com.br/noticias-cinema/estreias-futuras/foram-liberadas-novas-fotos-dos-bastidores-de-sex-and-the-city-2
http://www.cineseries.com.br/noticias-cinema/assuntos-gerais/mais-fotos-da-gravacao-de-sex-and-the-city-2
http://www.zerooitocentos.org/trocentas-fotos-do-set-de-sex-and-the-city-2/
http://www.imdb.com/title/tt1261945/mediaindex

Ser Cadi disse...

Olá, Rafael. Tudo bem?

Vou repassar seu recado ao jornalista Luiz Carlos, responsável pelos textos de cinema do blog.

Agradecemos a você pela visita.

Abraços.

Luiz Carlos disse...

Já tinha dado uma espiada nas fotos e estou elaborando alguma coisa para comentar. Não quero ser injusto, mas esse comentário rende bons momentos de diversão. Justamente quando pensávamos que elas haviam aprontado tudo, voilá!, tem coisa nova - ou, nesse caso, requentada. Estou curioso.

ideias vestíveis disse...

Será que eu sou a única pessoa no meio da moda que nunca assitiu "Sex and The city"? :O já tentei vêr algumas vezes o seriado mais nunca consegui, ou eu dormia ou desligava a tv hihih =X